Jean Mari Konan Yao, um produtor de cacau da Costa do Marfim, está enfrentando dificuldades na produção da matéria-prima essencial para a fabricação de chocolate. O país, que é responsável por quase metade do fornecimento mundial de cacau, vem sendo afetado por condições climáticas adversas e doenças das plantas, que impactaram negativamente as colheitas nos últimos anos.
Como muitos outros produtores da Costa do Marfim, o maior produtor de cacau do mundo, Konan Yao depende do cacau como principal fonte de sustento. Agora, ele e seus colegas de trabalho estão preocupados com os planos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 21% sobre os produtos originários da Costa do Marfim, que seria a mais alta entre os países da África Ocidental.
Embora Trump tenha adiado a implementação da tarifa por 90 dias, enquanto revisa mais profundamente o assunto, as autoridades da Costa do Marfim temem que tais tarifas possam aumentar ainda mais o preço do cacau, desestabilizando o mercado local e prejudicando suas vendas. O país produz entre 2 e 2,5 milhões de toneladas de cacau por ano, com uma parte significativa, entre 200.000 a 300.000 toneladas, sendo exportada para os Estados Unidos.
Em 2023, a Costa do Marfim exportou US$ 3,68 bilhões em grãos de cacau, tornando o cacau sua segunda maior exportação, atrás apenas do ouro. Os Estados Unidos ocupam o quarto lugar como maior importador de cacau do país, após a Holanda, Malásia e Bélgica, conforme dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
Para os produtores locais, a implementação de qualquer tarifa pelos EUA pode afetar um mercado já fragilizado por fatores como queda na produtividade e a redução do financiamento, que dificultam a capacidade de atender à crescente demanda global por chocolate. “Se o presidente dos EUA decidir aplicar uma taxa sobre o preço do cacau, isso realmente não nos favorece”, comentou Salif Traoré, outro produtor da região.
Além disso, a escassez de chuvas na Costa do Marfim já havia elevado o preço do cacau, com uma pesquisa apontando um aumento de 32% no preço do cacau importado para o Reino Unido nos últimos três anos, devido a condições climáticas extremas nas principais regiões produtoras, incluindo a Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões, que juntas representam cerca de três quartos da produção global de cacau.
Na Costa do Marfim, o governo normalmente estabelece os preços do cacau no início de cada temporada, mas os preços locais tendem a ser mais baixos do que os valores do mercado global, limitando os lucros dos produtores. Caso a tarifa dos EUA seja aplicada, as autoridades locais já consideram ajustes nos preços internos do cacau.
“O imposto alfandegário proposto por Donald Trump está nos prejudicando, já estamos vendo os impactos”, afirmou Boss Diarra, coordenador do sindicato dos produtores de cacau em Bouaflé. Ele destacou que muitos produtores estão enfrentando dificuldades para vender seus produtos.
No entanto, uma possível tarifa dos EUA pode redirecionar o cacau para os mercados europeus, onde alguns dos principais importadores da Costa do Marfim estão localizados. Bruno Marcel Iritié, pesquisador do Instituto Politécnico Félix Houphouët-Boigny da Costa do Marfim, explicou que, nesse cenário, os compradores europeus provavelmente irão adquirir o cacau a preços mais baixos, uma vez que a alta oferta favorece os consumidores.
Fonte: Sentinel
 
				 

 
								 
								