Apesar da disparada histórica no preço do cacau, os principais países produtores da África Ocidental, como Gana e Costa do Marfim, não conseguem resolver os graves problemas estruturais do setor. Reportagem da Bloomberg revela que, mesmo com a valorização do produto, os pequenos agricultores continuam enfrentando baixos lucros, dificuldades climáticas, doenças nas plantações e falta de investimentos. Um dos principais desafios é a doença do inchaço do broto, que dizimou lavouras em Gana, obrigando produtores a abandonarem suas terras. Embora o governo tenha iniciado um programa de replantio, ele ainda avança lentamente por falta de recursos estima-se que seriam necessários US$ 1,2 bilhão para atingir a meta de 500 mil hectares.
Mesmo com os preços internacionais do cacau quase triplicando desde 2022, os sistemas de comercialização adotados por Gana e Costa do Marfim impedem que os agricultores aproveitem esse boom, pois os governos vendem a safra com muita antecedência e os produtores recebem preços fixos. Essa estrutura, somada à corrupção institucional, contribui para o empobrecimento contínuo das comunidades rurais. Há denúncias de desvio de recursos de programas agrícolas, licenças fraudulentas para uso de terras e acordos desfavoráveis com multinacionais.
O colapso da renda agrícola empurra parte da população para a mineração ilegal, especialmente em Gana, onde essa prática é conhecida como galamsey. Essa atividade predatória destrói fazendas, contamina rios com mercúrio e degrada florestas inteiras, provocando um verdadeiro ecocídio ou seja, a destruição intencional de ecossistemas. Em regiões como Tarkwa, produtores de cacau estão vendendo suas terras para mineradores em busca de ouro, contribuindo para a devastação ambiental e social.
As previsões indicam que a produção continuará abaixo dos níveis anteriores, mesmo com uma leve recuperação esperada. Enquanto isso, os consumidores enfrentam aumento nos preços do chocolate e a indústria lida com incertezas. A única esperança para o equilíbrio do mercado é a redução do consumo, já que a oferta segue pressionada por fatores climáticos, doenças e a deterioração das condições socioambientais nas regiões produtoras.
Fonte: Xataka Brasil / Xataka Espanha
