ILHAS CANÁRIAS APOSTAM NO CACAU EM MEIO Á CRISE GLOBAL DO PRODUTO

Com queda na produção africana e alta histórica nos preços, arquipélago espanhol vê oportunidade de diversificar agricultura com cacau de nicho. A escassez global de cacau, provocada por fatores climáticos, pragas e desequilíbrios no setor agrícola africano, abriu espaço para novas iniciativas em regiões até então fora do mapa da produção. Nas Ilhas Canárias, engenheiros […]

Com queda na produção africana e alta histórica nos preços, arquipélago espanhol vê oportunidade de diversificar agricultura com cacau de nicho.

A escassez global de cacau, provocada por fatores climáticos, pragas e desequilíbrios no setor agrícola africano, abriu espaço para novas iniciativas em regiões até então fora do mapa da produção. Nas Ilhas Canárias, engenheiros agrônomos enxergaram nessa crise a chance de transformar o arquipélago em um polo de cultivo do fruto.

Localizadas na costa africana, mas pertencentes à Espanha, as Canárias contam com clima subtropical favorável ao cacau. Segundo o jornal La Provincia, essa diferença climática em relação ao restante da Europa é uma vantagem competitiva para o setor agrícola local. O Instituto Canário de Pesquisas Agrárias (ICIA), inclusive, há dois anos estuda o potencial da cultura nas ilhas e os primeiros resultados indicam viabilidade técnica e comercial.

A movimentação nas Canárias acontece em um momento de forte instabilidade nos principais países produtores. Gana, segundo maior produtor de cacau do mundo, enfrenta problemas com a mineração ilegal, que vem causando sérios impactos sociais, ambientais e econômicos. Um dos setores mais prejudicados com essa atividade,  foi justamente o cacau.

Nos últimos doze meses, Gana perdeu cerca de 20% da sua produção, reflexo direto da migração de agricultores para o garimpo informal, mais lucrativo a curto prazo. O fenômeno, agravado pela presença de operadores estrangeiros e pela falta de regulação, começa a atingir também a Costa do Marfim, líder mundial na produção.

Com a oferta em queda, o mercado reagiu: desde o final de 2023, o preço da tonelada de cacau disparou de US$ 2.581 para mais de US$ 10.370 na Bolsa de Nova York.

Nas Ilhas Canárias, a proposta não é substituir as grandes plantações africanas, mas desenvolver uma produção de cacau em pequena escala, com foco em qualidade. O objetivo é criar um produto premium, que contribua para diversificar a agricultura local, hoje fortemente dependente da banana, setor que enfrenta dificuldades há dois anos, inclusive com o risco de extinção de variedades tradicionais.

A estratégia, no entanto, exige mais do que solo e clima favoráveis. Produzir cacau envolve uma cadeia industrial complexa, que inclui etapas como fermentação e secagem dos grãos, estruturas ainda inexistentes nas ilhas. Além disso, vender o produto no atacado enfraqueceria a posição comercial dos produtores locais, tornando o negócio menos competitivo.

A valorização histórica do cacau atrai olhares, mas também exige cautela. Sem planejamento, o cultivo nas Canárias corre o risco de se tornar apenas uma experiência acadêmica, sem impacto real na economia.

Ainda assim, com preços nas alturas e demanda crescente por produtos de origem controlada e sustentável, o momento pode ser decisivo. Para as Ilhas Canárias, o cacau pode não apenas enriquecer a terra, mas também abrir um novo capítulo para a agricultura local.

Fonte: Xakata Brasil

Leia mais