DIA MUNDIAL DO CACAU: O DESCASO COM QUEM PRODUZ

Enquanto o mundo celebra o cacau com festas, prêmios e vitrines de chocolate, o produtor brasileiro segue invisível, enfrentando abandono, endividamento, insegurança e silêncio por parte do poder público. No Brasil, o setor cacaueiro vive uma crise profunda, marcada por falta de apoio técnico, desmonte institucional da CEPLAC, órgão técnico do cacau e risco fitossanitário […]

Enquanto o mundo celebra o cacau com festas, prêmios e vitrines de chocolate, o produtor brasileiro segue invisível, enfrentando abandono, endividamento, insegurança e silêncio por parte do poder público.

No Brasil, o setor cacaueiro vive uma crise profunda, marcada por falta de apoio técnico, desmonte institucional da CEPLAC, órgão técnico do cacau e risco fitossanitário crescente.

A CEPLAC, que já foi símbolo de pesquisa, inovação e desenvolvimento regional, hoje não tem estrutura sequer para divulgar uma previsão de safra nacional,  uma informação básica, mas essencial para o planejamento da cadeia produtiva. As pesquisas estão praticamente paralisadas, limitadas por cortes orçamentários e pela falta de recursos humanos. A ciência do cacau foi deixada para trás.

A ameaça da Monilíase, já presente na região Norte do país, expõe com ainda mais gravidade a ausência de uma política nacional de defesa vegetal robusta. Documentos oficiais da IDARON (Agência de Defesa Sanitária do Estado de Rondônia), revelam que houve desassistência por parte do MAPA, justamente no momento em que novo foco foi detectado. Em vez de um plano coordenado e preventivo, tivemos omissão e improviso por alguns meses.

Como se não bastasse o abandono técnico, o produtor ainda é penalizado por decisões políticas injustas.
A Instrução Normativa nº 125/2021, editada para favorecer a indústria, facilitou a importação de cacau sem garantias fitossanitárias adequadas, colocando ainda mais em risco a produção nacional. Enquanto o agricultor brasileiro lida com pragas, custos altos e ausência de apoio, o mercado se abre para o cacau externo, muitas vezes sem os mesmos critérios ambientais, sociais ou sanitários.

Na Bahia, o problema tem um agravante histórico: as dívidas antigas, que se arrastam há décadas, seguem sem qualquer solução efetiva. O produtor baiano continua arcando com os prejuízos de crises passadas, sem apoio do governo para reconstruir sua vida e sua produção.

Neste 7 de julho, Dia Mundial do Cacau, não há o que comemorar.
Há o que denunciar.
Há o que exigir.

Exigir respeito ao produtor rural. Exigir política agrícola séria para o cacau. Exigir que a pesquisa volte a ser prioridade. Exigir que a floresta em pé, cultivada com dignidade, receba o valor que merece.

O cacau é símbolo de biodiversidade, de cultura e de soberania.
Mas enquanto quem planta continuar sendo tratado como um problema, e não como parte da solução,  o Brasil seguirá desperdiçando um de seus maiores patrimônios: o produtor que resiste.

Fonte: Cacau Hoje

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