CRISE DO CACAU NÃO É ACIDENTE: É O RESULTADO DA GANÃNCIA DAS INDÚSTRIAS

Sem chocolate até 2050? A crise climática, doenças devastadoras e condições de trabalho dos produtores, ameaçam o futuro do nosso cacau. O Preço Amargo do Chocolate: Escravidão Infantil, Doenças e a Farsa da Sustentabilidade Por trás de cada barra de chocolate que encontramos nas prateleiras do supermercado, existe uma realidade brutal: milhares de trabalhadores africanos, […]

Sem chocolate até 2050? A crise climática, doenças devastadoras e condições de trabalho dos produtores, ameaçam o futuro do nosso cacau.

O Preço Amargo do Chocolate: Escravidão Infantil, Doenças e a Farsa da Sustentabilidade

Por trás de cada barra de chocolate que encontramos nas prateleiras do supermercado, existe uma realidade brutal: milhares de trabalhadores africanos, inclusive crianças, sustentam com suor e sofrimento uma indústria bilionária .. Enquanto marcas como Nestlé, Mars, Ferrero, Mondelez, Hershey, e fornecedoras gigantes como Barry Callebaut, Cargill e OFI (Olam Food Ingredients) exibem selos de “sustentabilidade”, a realidade nas plantações é de exploração, pobreza e abandono.

Na Costa do Marfim e em Gana, responsáveis por cerca de 60% da produção mundial de cacau — centenas de milhares de crianças trabalham em condições perigosas, muitas traficadas entre regiões, separadas de suas famílias. Usam facões, carregam cargas pesadas, aplicam agrotóxicos sem proteção e estudam pouco ou nada. A maioria dos agricultores adultos sobrevive com menos de dois dólares por dia, sem acesso a serviços básicos e sem qualquer segurança alimentar.

A indústria prometeu eliminar o trabalho infantil até 2005. Estamos em 2025, e a escravidão infantil ainda é uma peça-chave na cadeia produtiva do chocolate. Os programas de sustentabilidade promovidos por essas empresas funcionam, em grande parte, como maquiagem corporativa: relatórios polidos, selos bonitos nas embalagens e projetos-piloto que não chegam à maioria dos produtores.

Enquanto isso, as plantações enfrentam ameaças crescentes. Doenças como Swollen Schoot (broto inchado) e Phytophthora Megakaria dizimam as lavouras e aumentam a insegurança dos agricultores. As mudanças climáticas agravam ainda mais o cenário, tornando muitas regiões inaptas para o cultivo de cacau até 2050. Pesquisas recentes dos cientistas Gilbert John Anim-Kwapong e Peter Läderach reforçam a gravidade da situação. Seus estudos apontam que, sem intervenções significativas, as regiões produtoras de cacau na África Ocidental podem se tornar totalmente inaptas para o cultivo até 2050. A resposta das grandes corporações? Mínima. Oferecem soluções superficiais, enquanto seguem pressionando por matéria-prima barata e lucros recordes.

Barry Callebaut, Cargill e Olam/OFFi dominam o fornecimento global de cacau, movimentando milhões de toneladas por ano. São peças centrais desse sistema. Controlam a compra direta dos grãos, os preços pagos aos agricultores e boa parte da logística entre África, América Latina, Ásia e os mercados consumidores. Elas têm poder real  e escolheram manter esse modelo desigual, precário e insustentável.

É essencial investir em soluções de longo prazo e em práticas éticas, e não apenas em medidas paliativas. Isso inclui:

Pagar aos agricultores uma renda digna, que lhes permita fortalecer a resiliência de suas lavouras sem recorrer a práticas abusivas, como o trabalho infantil ou escravo.

Incentivar os consumidores a escolherem chocolates produzidos com cacau realmente sustentável e de origem ética, que garantam condições justas aos trabalhadores rurais e ofereçam suporte diante das mudanças climáticas.

Enquanto isso, o consumidor paga caro. Não apenas financeiramente, mas moralmente. O chocolate está mais caro nas prateleiras, mas esse custo não se reflete em melhores condições para quem realmente o produz. Pelo contrário, os lucros crescem nas sedes das multinacionais, enquanto a base da cadeia segue desamparada.

O que está em jogo não é apenas a permanência do chocolate em nossas vidas, mas a dignidade de milhões de pessoas que hoje sustentam essa indústria. É preciso exigir transparência, responsabilidade e justiça. Acabar com a escravidão infantil, pagar preços justos aos produtores, combater as doenças nas plantações com investimento técnico real e não com retórica vazia.

O chocolate que adoça nossas bocas amarga a vida de milhões. E enquanto Barry Callebaut, Cargill, OFFi  e as grandes marcas fingirem não ver, essa realidade só tende a piorar.

Fonte: Green Economy Coalition e Cacau Hoje

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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