A indústria de processamento de cacau na Nigéria atravessa uma fase crítica, afetada por altos custos de produção, infraestrutura precária e um ambiente regulatório hostil. A ausência de financiamento adequado, especialmente para a produção de mudas e insumos agrícolas, tem reduzido drasticamente o número de empresas ativas no setor, levando muitas delas à paralisação total.
Nos últimos anos, o governo nigeriano intensificou discursos em favor da industrialização do cacau, com foco na fabricação de chocolate e derivados. No entanto, os resultados práticos dessas políticas têm sido limitados. As poucas empresas ainda operando enfrentam dificuldades severas para manter a produção diante da elevação contínua dos custos logísticos, energéticos e tributários.
Além dos desafios internos de operação, o transporte de cacau entre os estados se tornou economicamente inviável. Barreiras fiscais múltiplas, impostas por órgãos federais, estaduais e municipais, encarecem o deslocamento da matéria-prima, comprometendo a competitividade da indústria local. Em muitos casos, taxas não regulamentadas e cobranças em postos de controle agravam ainda mais o cenário, travando o livre comércio da commodity dentro do próprio país.
O setor sofre também com a sobreposição de competências entre diversas agências reguladoras, o que gera insegurança jurídica e eleva o custo de conformidade. A multiplicidade de órgãos fiscalizadores resulta em processos burocráticos redundantes e em uma pressão tributária que desestimula investimentos e dificulta a expansão das operações.
Em meio a essas dificuldades, o setor agrícola do cacau também enfrenta restrições financeiras, com produtores sem acesso a crédito para adquirir defensivos agrícolas e demais insumos. A combinação de baixos investimentos no campo e dificuldades na industrialização tem comprometido toda a cadeia produtiva.
Diante desse quadro, lideranças do setor pressionam por uma reforma estrutural no modelo de governança do cacau na Nigéria. A criação do Conselho Nacional de Gestão do Cacau, recentemente aprovada pelo Executivo e agora sob análise do Senado, é vista como uma oportunidade para coordenar ações, harmonizar tributos e ampliar o apoio institucional ao setor.
Caso medidas concretas não sejam adotadas, o comércio interno de cacau continuará em desvantagem frente à importação da matéria-prima de países vizinhos como Gana, Togo e Camarões, onde o ambiente de negócios é mais previsível e eficiente. A sustentabilidade do cacau nigeriano depende agora de uma resposta urgente e coordenada do Estado.
Fonte: The Punch
